terça-feira, 20 de julho de 2010

FINISHER 2010 -EHUNMILAK

Terminei com o meu companheiro e amigo Reis a 1ª Edição da EHUNMILAK...46H44`,mais de 170km de percurso e muito mais que vou tentar contar...

Chegamos a Beasain faltava 1h para o inicio da prova, fomos entregar os sacos dos abastecimentos (1º aos 77km e o 2º aos 130km), tiramos as fotos da praxe, "bebemos" o ambiente e estávamos prontos para partir...havia clima de festa e muita gente nas ruas para felicitar a passagem dos corredores...as 18h locais o "tiro" de partida, 500mt planos e logo iniciávamos a subir, aí controlei-me pois as pernas queria rolar mais rápido...passagem aos 3km entrada num single track onde apareceu a primeira lama e um "persentimento" disse-me para abrandar esperar pelo Reis e fazermos a prova em conjunto (foi a melhor opção), a passagem pelos 5km iniciou-se uma chuva miudinha...aos 17km uma descida com muito barro e a 1ª queda, levantei-me mais umas passadas novamente no chão e desta vez foi direito a um arame farpado e dois dedos rasgados...muito sangue, dores e pouco suor...no final da descida estava a Cruz Roja e fez-me um penso e com a recomendação que teria de levar pontos num dos dedos tal era o rasgo...continuamos a tentar não cair e lá seguimos...íamos subir para Irimora que esta a 900mt e ao km 24, o nosso espírito estava óptimo com um ritmo bastante confortável e tinha passado cerca de 3h de prova...nos abastecimentos havia "embutidos" bolos secos, caldo, Aquarios, Agua, em resumo o essencial para nos alimentar e seguir em frente...entramos na noite e a chuva continuava, formou-se uma neblina que deixa cerca de 1 metro de visibilidade...
Até ao momento estávamos a ter grandes dificuldades na progressão a má escolha de ténis estava a tornar-se num pesadelo, perdíamos mais tempo a equilibra-nos para não cair do que a impor um ritmo certo...sentimos que tínhamos um grande problema para resolver...mas nada havia a fazer...nas descidas toda a gente passava por nós, e nas subidas tentávamos ir ao prejuízo mas o esforço era muito grande pois além da dificuldade do terreno estávamos constantemente sem aderência...
Entre o km 49 e 53 uma descida de pedra com ravinas muito perigosas, esta descida deixou as primeiras marcas nas pernas e pés, demoramos muito tempo a concluir...
Aos 54km partíamos de Azpeitia (local onde pernoitamos) para chegar aos Zelatun 90mt, depois baixamos para Tolosa onde estava o 1ª grande abastecimento, chegamos com muita chuva e aqui podíamos tomar banho...aproveitei para trocar as calças por calções, pôs as minhas Quad, tomei um banho e foi a massagem e voltar a fazer o penso aos dedos, a Cruz Roja perguntou-me se queria levar pontos pois estava um médico presente o que eu respondi que não, eles tomaram então a decisão de por pontos de "papel"...comi uns macarrões com queijo, o bolo que o Bri nos deu e estava pronto para partir, o Reis tomava sempre o Caldo que dizia que era bom para o estômago...partimos com chuva mas mais motivados pois estávamos com bastante força e as pernas respondiam bem...dai até Larraintz (95km) foi tranquilo, chuva, lama, e muitas quedas, já era normal...saimos para subir ao mais famoso controlo da prova o celebre TXINDOKIKO situado a 1400mt a estrada inicial estava boa, depois entramos numa trialheira onde pastavam vacas e a lama acumulava peso nas sapatilhas e dificultava ainda mais a subida...o tempo alterou-se de uma maneira que a chuva, vento condicionava em muita a progressão, entravamos na fase final da abordagem ao cume, as quedas eram sucessivas, não conseguíamos estar de pé, a solução era gatinhar agarrados as ervas e sei lá...por fim fizemos o cume onde a visibilidade era nula e bastante difícil de ter lá chegado...agora o problema maior, como íamos sair daquele monte...primeiro erramos no caminho, voltamos a trás e lá descobrimos as fitas....com muito cuidado na descida, onde tudo atrapalhava, eu e Reis comentávamos que não podíamos ter nenhuma queda mais feia...mas o azar bateu a porta, o Reis escorregou com uma velocidade, e pulso "partido"...ele com a dor sentiu-se muito mal, o frio que se fazia sentir também não ajuda, tirei a mata térmica, dei-lhe um Brufen e chamei a organização...chegou o tipo que estava no controlo e uma responsável pela Federação de Montanha Espanhola...foram impecáveis na ajuda...mas aí soubemos que estava bloqueada a ida o cume, pelo motivos que a organização apresenta no site oficial...mas nós estávamos lá e fomos fazer Tope...mas este foi o MOMENTO DA PROVA...ESTAVAM DECORRIDOS 105 KM...
Enquanto os atletas que não foram ao Txindokiko fizeram outro percurso eu e o Reis fomos os últimos a fazer toda a prova, e lá estávamos só os dois no meio de um temporal sem visibilidade nenhuma...quando iniciamos a descida para Lizarrausti, vimos atrás de nós um grupo com 5 corredores, aí eu comentei com o Reis "...é impossível eles terem feito o mesmo percurso que nós..." o Reis não estava a acreditar no que eu dizia...até que nos seguimos a rota da prova e ele viraram a esquerda num ponto onde estava elementos da organização, o Reis alertou-me "....Rato.os gajos vão enganados? O que se passa?...", eu perguntei a organização e a resposta foi rápida "...por aqui es mas curto..."...olhamos um para o outro e palavras para quê...chegamos então ao km 116 onde se encontrava o abastecimento.
Tínhamos acabado de chegar quando se aproximou um corredor e "...tu não es o Reis, das aventuras..." , o Reis confirmou mas não o conhecia...ele apresentou-se como Hugo Velez, simpático e nos disse que não foi ao Txindokiko pois a organização suspendeu essa tirada porque alem do mau tempo tinha havido um atleta que tinha partido o pulso na descida, o Reis então disse-lhe "...foi eu...vou agora mesmo receber tratamento..."
Saímos bastante desmotivados pois tínhamos perdido muito tempo e com esta situação de prova fomos ultrapassados por muitos corredores...o que não nos parecia justo e veio a confirmar-se para terem uma ideia o Hugo fez 90ª na geral e nos 110ª logo aqui são 20 lugares...mas é a Vida...
No percurso que ligava os 116km aos 130, fomos com o elemento da organização pois o Hugo arrancou a nossa frente, o terreno com muita lama e no meio de bosque bastante cerrado que fez que tivéssemos que esperar que a organização chega-se ao nosso encontro pois não achávamos as marcações da prova...fomos com eles até que paramos pois a elemento que tinha marcado a prova perdeu-se...é verdade, tinham segundo ele retirado as marcações da prova...é muito feio...
Chegamos a Etxegarate e o Reis não tinha muita vontade de continuar, apôs uma acesas troca de "elogios" eu decide que ia embora, pós a mochila as costas e diz "Reis, empresta-me a tua mata térmica...", ele perguntou-me "...vais arrancar sozinho?...", eu respondi "...sim, se tu não vieres vou...", o Reis "...eu vou contigo..." (não fazia sentido não terminarmos os dois a prova, o que tínhamos passados os dois juntos, a injustiça da classificação, não é o mais importante mas importa...)
Saímos para abordar o Aizkorri 1500mt eram 4,30 da manha, a subida é por caminho de pedra e tempo tinha-se alterado a chuva dava agora lugar a um sol e sem nuvens, para chegar ao cimo tínhamos 3h30`a aproximadamente...a vista era fantástica, talvez o melhor momento, aproveitamos para tirar umas fotos e logo iniciamos a baixar para a meta...deixamos de ter lama, mas agora o problema era outro, as pernas já não queria rolar...nos últimos 17km comecei a sentir-me muito mal, falta de coordenação de movimentos e o pulso batia a 60bpm, o meu pensamento era "tenho que terminar", se chego neste estado a controlo a organização não me deixa sair...o Reis foi impecável no apoio, e passados uns km tinha recuperado para os últimos 9km (segundo a organização) pois a nós deu 15....
Chegamos a Beasain com a nossa missão cumprida, liguei a minha mulher e o Pedro Honório ligou quando estava a terminar...o Edu também esteve nos metros finais...

A quantidade de amigos que temos nestes momentos faz que o difícil se torne fácil, a eles uma parte deste desafio, a minha família a outra parte, sempre acreditaram que era capaz...a minha Avó, eu pedi-lhe num momento que me ajuda-se, e Ela como sempre me ajudou...é para ela a maior parte da prova...ao meu Pai sei que sente orgulho...não me esqueci do meu Bandido que morreu recentemente...é por isto que eu continuo a correr, para sentir estes momentos...neste momento que estou a escrever não consigo conter tanta emoção...quero já outro desafio...

Ao Bri, Nuno Nobre, Pedro Honorio, Celso, P.Lopes, Raposo, Rui Oliveira, Edu, P.Silva, Quaresma, Carla Ribeiro, Sirage, Canais,D.Barreto, Marco, Lazinha, Hugo, M.Pereira,Lomba,Moura...